É fácil entender como a timidez pode interferir em um processo tão delicado. Quando aparece aquela vontade de ir ao banheiro, que os médicos chamam de onda peristáltica, é porque as fezes estão prontas para sair. Ao segurar essa vontade (ou porque você está no trabalho e detesta usar o banheiro de lá, ou porque não quer dar bandeira em um lugar desconhecido), você interrompe o processo. A onda passa e só deve aparecer de novo no dia seguinte. O problema cresce porque, depois de dois dias, as fezes já estão ressecadas e, portanto, mais difíceis de sair.
Antes de se sentir a grande vítima, porém, é bom entender o que os médicos consideram como prisão de ventre. O assunto provoca uma boa discussão, uma vez que mesmo entre eles não há um consenso sobre quantos dias de atraso confirmam o problema. Enquanto alguns dizem que o intestino normal deve funcionar de duas a três vezes ao dia, como nos bebezinhos ou nos animais, outros alegam que ir ao banheiro até uma vez a cada dois dias está dentro da normalidade. A melhor maneira de sair desse impasse é recorrer ao bom senso. Tem gente que fica dois dias sem ir ao banheiro e se sente bem disposta. Para outras garotas, um dia de atraso representa um martírio: elas sentem o abdômen inchado, mal-estar e até a pele fica um pouco esquisita. “Fique atenta à periodicidade e à consistência das fezes. Se você sempre vai ao banheiro uma vez a cada dois dias, esse é o seu padrão, portanto, só se preocupe caso o ritmo mude. Quanto à consistência, se as fezes são ressecadas e causam desconforto ao sair, mesmo que saiam diariamente, existe um quadro de prisão de ventre”, diz Alex Botsaris, médico especializado em acupuntura e medicina chinesa.
Como qualquer coisa que acontece no nosso organismo, a prisão de ventre não é um desconforto isolado. Além da barriguinha estufada e do mau humor (já que enfezada quer mesmo dizer cheia de fezes), o intestino preso também é responsável por outros problemas, que afetam não só a sua beleza como o seu estado de espírito e a sua saúde. “Pode não parecer, mas o intestino é um órgão nobre. Pesquisas recentes demostram que 90% da serotonina (aquela substância responsável pelo bemestar) produzida por nosso organismo vem do intestino e 80% das nossas defesas imunológicas, também”, explica Tiago Almeida, médico especialista em colonterapia.
A maior parte das conseqüências da falta de funcionamento do intestino está ligada às toxinas que não são eliminadas devidamente e, portanto, permanecem no nosso organismo. O resultado pode ser inchaço, gases, enxaqueca, espinhas, alergia, celulite, fadiga e depressão.
Para melhorar o hábito intestinal você precisa atacar o problema em quatro frentes.
Coma pelos menos três porções por dia de folhas, três de legumes e três de frutas. Algumas frutas concentram substâncias que ajudam o seu intestino a funcionar melhor, como papaia, ameixa, abacaxi, maracujá e laranja. Substitua o pão branco pelo integral e consuma um iogurte (com lactobacilos) por dia. Para deixar que as fibras façam o seu papel de limpar o organismo, beba, no mínimo, 2 litros de água por dia.
A prisão de ventre é um motivo mais que justo para você começar a malhar, pois ajuda nos movimentos peristálticos. Meia hora por dia já é suficiente, e o abdominal é uma boa opção porque fortalece a musculatura do ventre, importante na expulsão das fezes.
Aqui entramos em um ponto delicado. Você deve ter o cuidado de só se medicar para a prisão de ventre com a recomendação do seu médico. Embora alguns tipos de laxante, como os de fibras solúveis, por exemplo, não causem danos ao organismo, outros (mesmo os naturais à base de cáscara-sagrada e ruibarbo) podem fazer mais mal do que bem. Há o risco de irritar o intestino, destruir a sua flora, viciar seu organismo e, com o tempo, até perder o efeito. “Se hoje você toma um, daqui uns meses vai precisar de quatro comprimidos para ter o mesmo resultado”, explica Frederico.
Por último, e talvez o item mais difícil de ser incorporado à rotina, é a mudança dos hábitos diários. Será preciso tentar atender prontamente aos chamados do seu intestino, esteja onde estiver. Se ele até já parou de chamar, passe a ir ao banheiro, mesmo sem vontade, após as refeições. É que nesse momento acontece o que os médicos chamam de refluxo gastrocólico, uma movimentação em todo aparelho digestivo, capaz de despertar a vontade até nos intestinos mais preguiçosos. Sente, relaxe e aguarde. Não foi dessa vez, repita a tentativa após a refeição seguinte. Essa técnica só não deve ser usada por quem tem hemorróida, porque pode agravar o quadro. Tente, insista, você vai colocar a sua barriguinha em ordem, seu organismo vai funcionar melhor, você vai ficar mais bonita e muito mais feliz. Encare esse desafio!
Massagens e posturas ensinadas por especialistas podem ajudá-la a sair do banheiro com sensação de missão cumprida
• A posição de cócoras estimula o intestino e o ajuda a funcionar melhor. No vaso, mantenha o tronco curvado para a frente.
• Se estiver em casa, use um banquinho, de cerca de 30 centímetros para apoiar os pés. Dessa forma, as fezes tendem a sair naturalmente.
• Sentada no vaso, faça uma massagem abdominal, em grandes círculos, no sentido horário, para estimular os movimentos peristálticos.
• Se você não gosta de se sentar nos vasos de banheiros públicos, use um papel para forrar o assento. Lencinhos higiênicos umedecidos fazem uma boa higienização, e podem ajudá-la a se sentir mais segura de usar o banheiro na hora do expediente.
• Faça 5 minutos de compressa com bolsa de água gelada, seguida por 5 minutos de bolsa de água quente no ventre. Em seguida, massageie no sentido horário. Repita quatro vezes. “O frio contrai, o calor relaxa. Essas compressas mais a massagem estimulam a contração e a descontração do intestino e iniciam um movimento peristáltico”, explica Alex.
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